projeta novas sanções dos EUA em meio ao julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe

Ex-presidente começa a ser julgado no STF nesta terça-feira (2). Caso Bolsonaro é citado por Trump como justificativa para tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros.

POLÍTICA

8/31/20255 min read

Governo brasileiro projeta novas sanções dos EUA em meio ao julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe

Ex-presidente começa a ser julgado no STF nesta terça-feira (2). Caso Bolsonaro é citado por Trump como justificativa para tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros.

Por Redação — Jornal Viral | Brasília
Atualizado em 31/08/2025 – 11h00

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já se prepara para enfrentar um cenário de maior tensão diplomática com os Estados Unidos. A avaliação dentro do Palácio do Planalto é de que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, poderá resultar em novas sanções econômicas por parte da administração de Donald Trump, atual presidente norte-americano.

A análise é de que, diante da postura explícita de Trump em defesa de Bolsonaro, qualquer decisão condenatória contra o ex-chefe do Executivo brasileiro terá reflexos imediatos na política externa e no comércio bilateral.

O julgamento de Bolsonaro e aliados no STF

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) dará início, na próxima terça-feira (2), ao julgamento do núcleo central dos acusados de conspirar contra a ordem democrática. No centro do processo está Jair Bolsonaro, apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como “principal articulador, maior beneficiário e autor das ações golpistas” que tinham como objetivo impedir a posse do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2023.

A acusação sustenta que Bolsonaro utilizou sua influência política e institucional para manter uma narrativa de fraude eleitoral, ao mesmo tempo em que incentivava a desestabilização das instituições. Entre as provas anexadas ao processo estão mensagens de aliados, discursos públicos, vídeos de reuniões e depoimentos de ex-integrantes de seu governo.

O caso é considerado inédito na história brasileira: nunca antes um ex-presidente da República havia sido julgado por tentativa de golpe de Estado.

A ligação com os EUA e o tarifaço de Trump

A situação de Bolsonaro no STF foi mencionada pelo presidente Donald Trump como um dos motivos que levaram à imposição de um tarifaço de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, em vigor desde 6 de agosto.

Segundo Trump, a manutenção de processos contra Bolsonaro representaria um ataque político contra um “aliado dos Estados Unidos”. O republicano chegou a pressionar diretamente o governo brasileiro para que encerrasse os processos judiciais.

O gesto foi interpretado pelo Itamaraty como uma clara interferência externa em assuntos internos do Brasil. Fontes do Ministério das Relações Exteriores afirmam que a relação bilateral entrou em uma “fase crítica”, já que uma eventual condenação de Bolsonaro poderá provocar um endurecimento ainda maior por parte da Casa Branca.

Lula adota discurso nacionalista

Diante do agravamento das tensões, o presidente Lula intensificou sua retórica nacionalista. Em agendas públicas recentes, o petista utilizou bonés com mensagens patrióticas, adotou discursos duros contra as tarifas impostas pelos Estados Unidos e reforçou que o Brasil “não aceitará ser tratado como colônia”.

“Não é aceitável que um país estrangeiro tente interferir nos rumos da Justiça brasileira. O Brasil é soberano e tem instituições sólidas. Se querem impor barreiras ao nosso desenvolvimento, também saberemos responder à altura”, disse Lula em evento no Palácio do Planalto.

Retaliações e medidas de reciprocidade

Embora o governo brasileiro já tenha iniciado os procedimentos para aplicar medidas de reciprocidade contra os EUA, auxiliares de Lula garantem que o processo não foi motivado exclusivamente pelo julgamento de Bolsonaro. Segundo interlocutores do Planalto, a decisão já estava em curso como parte de uma estratégia de médio prazo para equilibrar as relações comerciais.

No entanto, como a aplicação de medidas retaliatórias depende de trâmites burocráticos e negociações internas, qualquer resposta efetiva só deve ser sentida no fim de 2025 ou início de 2026.

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também ocupa o cargo de ministro da Indústria, Comércio e Serviços, destacou que o movimento pode abrir espaço para negociações.

“Espero que esse processo ajude a acelerar o diálogo e a negociação. O Brasil não pode se dar ao luxo de entrar em uma guerra comercial prejudicial, mas também não pode aceitar imposições unilaterais”, afirmou Alckmin.

Opções na mesa

Dentro do governo, ainda não se fala em sobretaxas diretas contra os Estados Unidos, justamente para evitar prejuízos à indústria brasileira, altamente dependente de insumos e do mercado externo.

As medidas de resposta cogitadas são mais políticas do que comerciais. Entre as alternativas discutidas estão:

  • Revisão de acordos de propriedade intelectual, permitindo maior liberdade para quebra de patentes de medicamentos estratégicos.

  • Aumento de impostos sobre grandes empresas de tecnologia, especialmente aplicativos de streaming e serviços digitais de origem norte-americana.

  • Reforço em parcerias comerciais com países da Ásia e do Oriente Médio, para reduzir a dependência das exportações para os EUA.

Apesar disso, diplomatas ressaltam que qualquer medida será cuidadosamente planejada para não gerar efeitos colaterais negativos à economia brasileira.

Percepção internacional

Analistas internacionais avaliam que a postura dos EUA em relação ao Brasil tem forte viés político. Ao vincular o julgamento de Bolsonaro à imposição de tarifas, Trump teria dado um recado claro de que sua prioridade é proteger aliados políticos ideológicos, mesmo que isso represente um desgaste diplomático.

Na Europa, a repercussão é diferente: países como França e Alemanha já sinalizaram preocupação com a tentativa de Trump de interferir em assuntos internos brasileiros. O Parlamento Europeu chegou a discutir uma moção de apoio à soberania brasileira diante da pressão norte-americana.

“Se não houve golpe, por que estão sendo julgados?”

Esse é um dos questionamentos levantados por apoiadores de Bolsonaro. No entanto, especialistas em Direito Constitucional explicam que o processo no STF não depende apenas da consumação de um golpe, mas também da tentativa e da articulação para subverter a ordem democrática.

Segundo a PGR, ainda que o golpe não tenha se concretizado, as evidências indicam que houve preparação, incentivo e tentativa de execução, o que já configura crime contra o Estado de Direito.

Clima político interno

No Brasil, o julgamento promete acirrar ainda mais a polarização política. De um lado, apoiadores de Bolsonaro afirmam que ele é vítima de perseguição judicial. Do outro, movimentos sociais e setores progressistas defendem que a Justiça deve dar uma resposta firme para que situações semelhantes não se repitam.

O governo Lula, por sua vez, busca equilibrar a defesa da democracia com a necessidade de preservar a economia. A orientação é manter o discurso nacionalista sem fechar portas para possíveis negociações diplomáticas.

O que está em jogo

O julgamento de Bolsonaro e seus aliados vai muito além da esfera jurídica. Ele se tornou um marco político e diplomático, com desdobramentos diretos na economia e nas relações internacionais do Brasil.

Se condenado, o ex-presidente poderá perder seus direitos políticos por vários anos, além de enfrentar penas criminais que podem incluir prisão. Ao mesmo tempo, o país poderá ser alvo de novas retaliações de Washington, aprofundando o impasse comercial.

Para especialistas, o Brasil vive um momento de prova de fogo: precisa mostrar que suas instituições são capazes de enfrentar pressões internas e externas, ao mesmo tempo em que mantém estabilidade econômica e diplomática.

Conclusão

O governo Lula encara o julgamento de Jair Bolsonaro como um divisor de águas. O processo pode redefinir o papel do Brasil no cenário internacional e testar a capacidade do país de resistir a pressões vindas de sua maior potência comercial.

Entre o risco de novas sanções dos Estados Unidos e a necessidade de reafirmar sua soberania, o Brasil se prepara para dias decisivos. O resultado no STF poderá ecoar muito além das fronteiras nacionais, influenciando diretamente a geopolítica regional e global.